A terça-feira começa com o mercado tentando reencontrar estabilidade em meio ao turbilhão político e ao avanço acelerado do comércio digital estrangeiro sobre o consumidor brasileiro. Mesmo com o cenário ainda volátil, o Ibovespa fechou o último pregão em alta de 0,52%, reduzindo parcialmente as perdas acumuladas no mês, que agora recua 0,56%.
O grande destaque do dia foi o salto de 10,20% das ações do IRB, puxado por um volume negociado quase cinco vezes maior do que a média — sinal de que investidores aproveitaram a volatilidade para reposicionar apostas. No campo das incorporadoras, Cyrela e Direcional também chamaram atenção com volumes acima do habitual, embaladas pelo otimismo com o setor imobiliário e pela perspectiva de continuidade das obras contratadas em 2025.
Enquanto o mercado se ajusta, o noticiário político segue ocupado e intensifica a temperatura às vésperas de um ano eleitoral. A principal manchete vem de Tarcísio de Freitas, que reafirmou publicamente sua lealdade a Jair Bolsonaro e anunciou apoio à candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência. O movimento tenta nivelar expectativas dentro do grupo político, mas também escancara o clima de tensão: líderes do Centrão, por exemplo, esvaziaram a reunião do senador, que afirmou que “tem um preço” para desistir da disputa — frase que ressoou mal tanto no mercado quanto em Brasília.
Paralelamente, avança no Congresso o projeto que endurece regras contra devedores contumazes — tema arrastado há oito anos e que, segundo o ministro Fernando Haddad, deve finalmente ir à votação. A preocupação é evitar que empresas usem brechas legais para protelar dívidas, gerando concorrência desleal e rombos fiscais relevantes.
Outra notícia que mexe com o ambiente corporativo é o plano dos Correios de abrir um novo PDV que pode resultar na demissão de 15 mil funcionários. A estatal, que passa por uma das maiores reestruturações da sua história, tenta equilibrar contas em meio a queda na demanda tradicional, aumento de custos e pressões competitivas no segmento logístico. Para completar, a Aneel projeta uma alta de 7% na conta de luz em 2025 — outro elemento que pressiona famílias e empresas.
No lado positivo (ou pelo menos dinâmico), os e-commerces chineses continuam sua escalada impressionante no país. Entre abril e setembro, o número de transações digitais cresceu 106%, muito acima da média de 24% registrada em outros mercados emergentes. O Brasil, claramente, virou o campo de batalha preferido das gigantes asiáticas, que disputam preço, logística e presença cultural para conquistar o consumidor local.
No agro, mais mudanças importantes. Vibra e Copersucar encerraram a parceria na Evolua Etanol, enquanto a MBRF apresentou a nova liderança da Sadia no Oriente Médio, agora sob comando de Marquinhos Molina, de apenas 30 anos. Nos EUA, Donald Trump anunciou um pacote de US$ 12 bilhões para produtores prejudicados por tarifas internacionais — uma tentativa de conter o impacto do protecionismo crescente. Já a China deve aumentar ainda mais as compras de soja brasileira em 2025, devendo atingir um volume recorde.
No cenário internacional, o humor não é dos melhores. A confiança do consumidor americano atingiu o nível mais baixo desde o início da série histórica em 1978 — uma queda de 32,5% em relação ao ano anterior. Esse dado é especialmente relevante, dado que consumo é o pilar central da economia dos EUA. A incerteza política, somada a juros ainda elevados, pressiona a percepção das famílias.
Na guerra do entretenimento, a novela da compra da Warner Bros ganhou um novo capítulo. Depois que a Netflix anunciou a aquisição na última sexta-feira — prometendo manter tudo como está “por enquanto” —, a Paramount entrou com uma oferta hostil para levar não só o estúdio, mas também filmes e canais, algo que a Netflix havia descartado. O setor vive uma disputa bilionária que pode redesenhar completamente o mercado de streaming.
E para fechar, o Google anunciou que lançará em 2026 seus novos óculos com inteligência artificial, entrando de vez na disputa com Apple e Meta pela próxima grande plataforma de hardware inteligente. Caso se confirme o potencial do dispositivo, podemos estar diante da próxima fronteira de consumo tech.
Com política aquecida, empresas se reorganizando e tecnologia avançando em ritmo acelerado, esta terça se desenha como mais um capítulo de um dezembro que promete grandes movimentações — no Brasil, no mercado e no mundo.