A semana termina com o mercado financeiro praticamente estável, em um pregão que parecia mais interessado em observar o noticiário do que em reagir a ele. O Ibovespa subiu tímidos 0,07% — a mesma variação acumulada no mês, uma coincidência que sintetiza bem o clima atual: cautela, expectativa e movimentos laterais. No destaque corporativo do dia, Hapvida subiu 3,41%, enquanto Suzano caiu 4,26% após forte realização.
O noticiário político e econômico, porém, trouxe bem mais intensidade do que o pregão. No Congresso, foi aprovada a isenção de IPVA para veículos com mais de 20 anos — uma medida que agrada colecionadores e donos de carros antigos, mas reacende o debate sobre renúncias fiscais e o impacto para os estados, responsáveis pela arrecadação do imposto. A medida surge num momento em que governadores tentam fechar as contas de 2025 em meio ao aperto fiscal e receitas pressionadas.
No cenário empresarial doméstico, o Patria Investimentos movimentou o setor ao adquirir o portfólio de FIIs da RBR, um conjunto de R$ 8 bilhões em patrimônio líquido, ao múltiplo de 6% do AuM — uma transação que reforça o apetite por ativos imobiliários mesmo em um ambiente de juros ainda elevados. Já na infraestrutura, a Motiva (antiga CCR) venceu o leilão da Fernão Dias, assumindo a concessão de 569 km até 2040, numa disputa que evidencia o interesse renovado por rodovias com grande fluxo.
O setor financeiro também esteve no centro das atenções. O FGC avalia conceder um empréstimo para facilitar a venda do Will, empresa do conglomerado Master que entrou em regime especial temporário, mas não em liquidação — um sinal de que há interessados e de que a intervenção pode ser apenas uma etapa da transição. No varejo pet, o Cade aprovou a fusão entre Petz e Cobasi, mas condicionou o acordo à venda de 26 lojas em São Paulo, cerca de 3,3% do faturamento combinado — um ajuste para preservar a concorrência no estado mais relevante para o setor.
Outra pauta relevante é o avanço do projeto contra o “devedor contumaz” no setor de combustíveis, com potencial de elevar a arrecadação em até R$ 14 bilhões. É um tema antigo, mas cuja regulamentação nunca andou no ritmo esperado — e que agora ganha força diante da magnitude do problema: uma dívida acumulada superior a R$ 174 bilhões, valor maior que todo o orçamento nacional de segurança pública.
Ainda no legislativo, a CCJ aprovou o projeto que cria o “aluguel consignado”, uma demanda histórica do setor imobiliário que pode alterar profundamente o acesso ao crédito habitacional e reduzir riscos para locadores e instituições financeiras.
No agronegócio, a União Europeia fez recall de carne bovina exportada pela JBS, fato que reacende a pressão sanitária sobre a cadeia de proteínas brasileiras. As exportações de café recuaram 26,7% em novembro, enquanto o avanço da soja brasileira começa a gerar apreensão global: uma produção cada vez maior pode pressionar preços internacionais em 2026.
No cenário internacional, o governo Trump lançou o “Gold Card”, um visto de US$ 1 milhão para estrangeiros que desejam viver nos EUA com benefícios ampliados. Para quem busca ainda mais liberdade — inclusive tributária — existe o “Platinum Card”, que permite permanecer 270 dias por ano no país sem sujeição a impostos sobre renda estrangeira, mediante um pagamento de US$ 5 milhões. É um movimento alinhado à estratégia de atrair capital global e reposicionar os Estados Unidos no fluxo migratório de alto poder aquisitivo.
O foco das big techs continua sendo a Índia: a Amazon anunciou que investirá mais de US$ 35 bilhões no país até 2030, somando-se aos aportes recentes de Microsoft (US$ 17,5 bilhões) e Google (US$ 15 bilhões). O país consolida-se como o destino preferido das gigantes de tecnologia — uma mudança clara desde que o ambiente regulatório chinês se tornou mais imprevisível.
A guerra da inteligência artificial também ganhou novos capítulos. A OpenAI lançou o modelo GPT-5.2, com capacidades aprimoradas, enquanto a Disney anunciou um investimento de US$ 1 bilhão na empresa, além do licenciamento de mais de 200 personagens para geração de vídeos com IA — um passo que pode redefinir o entretenimento global. Em contrapartida, a Oracle assustou investidores com gastos acelerados em infraestrutura de IA, reacendendo preocupações sobre uma possível bolha gerada pela corrida por poder computacional.
O México, por sua vez, aprovou o aumento de tarifas sobre importações chinesas e de outros países asiáticos, reforçando uma tendência global de proteção industrial em nome da competitividade doméstica.
Entre isenções, fusões, megainvestimentos e a disputa mundial por tecnologia, a sexta-feira fecha com um claro sinal: o ambiente econômico pode até andar devagar, mas as mudanças estruturais estão a todo vapor — e cada uma delas tem o potencial de moldar o mercado nos próximos anos.