A quarta-feira foi marcada por turbulência nos mercados e por decisões polêmicas no campo fiscal e regulatório que impactaram diretamente investidores e empresas. O Ibovespa encerrou o pregão em queda acentuada de 1,57%, ampliando as perdas no mês para 3,34%. Minerva (BEEF3) foi o destaque positivo do dia, com alta de 1,21%, enquanto MRV (MRVE3) liderou as perdas com uma queda expressiva de 12,12%. Entre os papéis com volumes atípicos de negociação, EQTL3, AZZA3 e MRVE3 chamaram atenção.
No cenário político e fiscal, o governo decidiu recuar da intenção de tributar as empresas de apostas — medida que enfrentava forte resistência — para viabilizar a aprovação da Medida Provisória que libera cerca de R$ 20 bilhões em um ano eleitoral. A decisão, contudo, veio acompanhada de uma mudança significativa no tratamento dos investimentos: a comissão especial aprovou um aumento do Imposto de Renda sobre aplicações financeiras, que passará a ser de 18%, mantendo a isenção para LCA e LCI. A escolha gerou críticas intensas do mercado, que viu a medida como um desincentivo ao investimento produtivo e um movimento político de priorização de arrecadação sobre estímulos econômicos.
No ambiente doméstico, a limitação do saque-aniversário do FGTS a R$ 500 reduziu a expectativa de liquidez para famílias endividadas, e a captação líquida de fundos de investimento apresentou queda de 63% no acumulado até setembro, reflexo da aversão ao risco em meio ao cenário macroeconômico incerto. A crise corporativa também continuou afetando o mercado de crédito: produtos estruturados (COEs) ligados a papéis de Braskem e Ambipar evaporaram, deixando investidores no prejuízo. No setor de telecomunicações, a Claro está em negociações avançadas para adquirir a Desktop, movimento que mostra a tendência de consolidação do setor após a derrocada das pequenas operadoras na bolsa. Outro destaque do dia foi a estreia da OranjeBTC na bolsa brasileira, com R$ 2,4 bilhões em bitcoin no caixa — o ativo chegou a disparar 20% no dia, mas devolveu os ganhos rapidamente, evidenciando a alta volatilidade do mercado cripto.
No mercado corporativo global, a ICE — dona da Bolsa de Nova York — adquiriu 20% da Polymarket, maior plataforma de apostas do mundo, em um negócio avaliado em US$ 8 bilhões. No Brasil, a UNLK concluiu a compra da Wake Creators, unidade da LWSA, por R$ 45 milhões. Já um grupo ligado ao fundo soberano Mubadala avalia a compra da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), pertencente ao Grupo Votorantim, reforçando o interesse estrangeiro por ativos industriais brasileiros.
O agronegócio brasileiro teve um desempenho relevante com a exportação recorde de carne suína em setembro, segundo a ABPA, consolidando o país como um dos principais fornecedores globais do produto.
No cenário internacional, os mercados observaram movimentos importantes que sinalizam mudanças no comércio global e na geopolítica econômica. As vendas da Mercedes na China caíram 27%, atingindo o menor nível em quase uma década, e recuaram também nos Estados Unidos em 16%, em um sinal de perda de competitividade da marca no mercado premium. A União Europeia anunciou a redução pela metade de suas cotas de importação de aço e planeja aplicar tarifas de até 50% sobre volumes excedentes, em resposta ao excesso de aço barato proveniente da China. Na Argentina, o presidente Javier Milei voltou a vender dólares no mercado cambial, reduzindo as reservas internacionais a apenas US$ 1 bilhão enquanto aguarda apoio financeiro dos Estados Unidos. Paralelamente, investigações revelaram que a China tem comprado petróleo do Irã de forma discreta, contornando sanções impostas por Washington.
O dia foi concluído com a notícia de que o Prêmio Nobel de Física deste ano foi concedido a funcionários do Google, marcando a quinta vitória de uma Big Tech na premiação em apenas dois anos — um reflexo do peso crescente da inovação tecnológica no desenvolvimento científico global.
A combinação de pressões fiscais, reações do mercado e mudanças no comércio global reforça o ambiente de incerteza para investidores e empresas. O aumento de impostos sobre investimentos em meio à desaceleração econômica levanta dúvidas sobre a sustentabilidade do crescimento no Brasil, enquanto o cenário internacional segue desafiador, com tensões comerciais e estratégicas moldando os próximos passos da economia mundial.