O Ibovespa encerrou o pregão em alta de +0,61%, elevando a valorização acumulada no mês para +0,61%. Apesar do ritmo contido, o mercado reagiu de forma positiva frente a uma combinação de investimentos estrangeiros em infraestrutura brasileira e a desaceleração da retirada de recursos em renda variável. A Minerva (BEEF3) avançou +2,79%, enquanto Marcopolo (POMO4) caiu -8,11%. No rastreador de volumes negociados, destacaram-se EQTL3 (2,89x a média, +2,59%), CPFE3 (2,27x, +2,64%) e ALOS3 (1,96x, +0,08%).
No Brasil, o cenário de investimentos produtivos segue sendo impulsionado por aportes externos no setor elétrico: um estudo da CEBC confirma que o Brasil foi o terceiro maior destino global de investimentos produtivos chineses em 2024, ficando à frente de todos os emergentes e concentrando 34% dos recursos da China naquele ano no setor de energia. Esse contexto abre espaço para projetos de larga escala, como o anunciado data center de alto consumo no Ceará, com investimento estimado em mais de R$ 50 bilhões para atender à operação da ByteDance. No âmbito regulatório, o Banco Central publicou consulta pública sobre exposição de instituições financeiras a ativos digitais, e amplia o escrutínio sobre fintechs e criptomoedas — ação que segue ao endurecimento da remuneração de corretoras na venda de CDBs, tema objeto de debate desde o episódio do Banco Master.
No campo das grandes corporações, o novo ciclo de captação de dívidas com taxas baixas pelas Big Techs chamou atenção: apesar de deterem trilhões em caixa, empresas como Meta e Alphabet captaram dezenas de bilhões em dívidas nos últimos dias. A lógica está clara: custo de capital barato, benefício fiscal e forte retorno sobre o capital investido combinam para viabilizar captações massivas mesmo em momentos de incerteza. Esse movimento reflete tanto a liquidez abundante global quanto a competição acirrada por ativos de tecnologia.
No agronegócio, a safra 2025/26 atinge 47% da área plantada de soja no Brasil, segundo o AgRural, mesmo com atrasos logísticos e custos elevados de fertilizantes — que registram o pior segundo trimestre em cinco anos. A divergência entre investimento em infraestrutura digital e gargalos no agro ilustra o desafio estrutural que o país enfrenta: enquanto atraímos capitais para data centers e redes, ainda tropeçamos em temas básicos de produção e financiamento.
No panorama internacional, a China informa que a dona do TikTok, ByteDance, construirá o maior data center do país no Ceará, com cerca de 300 MW de consumo energético. A operação reforça o interesse chinês em commodities e infraestrutura brasileira, enquanto os EUA e China prosseguem com diplomacia econômica. Esse tipo de investimento em “terras de dados” sinaliza que o Brasil está entrando em um novo ciclo de competitividade global — mas o timing, os custos e os impactos na cadeia local ainda são incertos.
Em síntese: o mercado brasileiro parece estar estabilizando-se, impulsionado por aportes e reformas regulatórias, mas enfrenta ao mesmo tempo desafios macroeconômicos e setoriais que exigem atenção. O fluxo de investimentos externos mostra a força do país como destino estratégico, mas se não resolvermos gargalos como crédito e logística no agro e na infraestrutura, esse ciclo pode continuar frágil.