MCall | 12 de dezembro — IPVA zerado para carros antigos, fusões bilionárias, aval do Congresso e a disputa global por IA

A semana termina com o mercado financeiro praticamente estável, em um pregão que parecia mais interessado em observar o noticiário do que em reagir a ele. O Ibovespa subiu tímidos 0,07% — a mesma variação acumulada no mês, uma coincidência que sintetiza bem o clima atual: cautela, expectativa e movimentos laterais. No destaque corporativo do dia, Hapvida subiu 3,41%, enquanto Suzano caiu 4,26% após forte realização. O noticiário político e econômico, porém, trouxe bem mais intensidade do que o pregão. No Congresso, foi aprovada a isenção de IPVA para veículos com mais de 20 anos — uma medida que agrada colecionadores e donos de carros antigos, mas reacende o debate sobre renúncias fiscais e o impacto para os estados, responsáveis pela arrecadação do imposto. A medida surge num momento em que governadores tentam fechar as contas de 2025 em meio ao aperto fiscal e receitas pressionadas. No cenário empresarial doméstico, o Patria Investimentos movimentou o setor ao adquirir o portfólio de FIIs da RBR, um conjunto de R$ 8 bilhões em patrimônio líquido, ao múltiplo de 6% do AuM — uma transação que reforça o apetite por ativos imobiliários mesmo em um ambiente de juros ainda elevados. Já na infraestrutura, a Motiva (antiga CCR) venceu o leilão da Fernão Dias, assumindo a concessão de 569 km até 2040, numa disputa que evidencia o interesse renovado por rodovias com grande fluxo. O setor financeiro também esteve no centro das atenções. O FGC avalia conceder um empréstimo para facilitar a venda do Will, empresa do conglomerado Master que entrou em regime especial temporário, mas não em liquidação — um sinal de que há interessados e de que a intervenção pode ser apenas uma etapa da transição. No varejo pet, o Cade aprovou a fusão entre Petz e Cobasi, mas condicionou o acordo à venda de 26 lojas em São Paulo, cerca de 3,3% do faturamento combinado — um ajuste para preservar a concorrência no estado mais relevante para o setor. Outra pauta relevante é o avanço do projeto contra o “devedor contumaz” no setor de combustíveis, com potencial de elevar a arrecadação em até R$ 14 bilhões. É um tema antigo, mas cuja regulamentação nunca andou no ritmo esperado — e que agora ganha força diante da magnitude do problema: uma dívida acumulada superior a R$ 174 bilhões, valor maior que todo o orçamento nacional de segurança pública. Ainda no legislativo, a CCJ aprovou o projeto que cria o “aluguel consignado”, uma demanda histórica do setor imobiliário que pode alterar profundamente o acesso ao crédito habitacional e reduzir riscos para locadores e instituições financeiras. No agronegócio, a União Europeia fez recall de carne bovina exportada pela JBS, fato que reacende a pressão sanitária sobre a cadeia de proteínas brasileiras. As exportações de café recuaram 26,7% em novembro, enquanto o avanço da soja brasileira começa a gerar apreensão global: uma produção cada vez maior pode pressionar preços internacionais em 2026. No cenário internacional, o governo Trump lançou o “Gold Card”, um visto de US$ 1 milhão para estrangeiros que desejam viver nos EUA com benefícios ampliados. Para quem busca ainda mais liberdade — inclusive tributária — existe o “Platinum Card”, que permite permanecer 270 dias por ano no país sem sujeição a impostos sobre renda estrangeira, mediante um pagamento de US$ 5 milhões. É um movimento alinhado à estratégia de atrair capital global e reposicionar os Estados Unidos no fluxo migratório de alto poder aquisitivo. O foco das big techs continua sendo a Índia: a Amazon anunciou que investirá mais de US$ 35 bilhões no país até 2030, somando-se aos aportes recentes de Microsoft (US$ 17,5 bilhões) e Google (US$ 15 bilhões). O país consolida-se como o destino preferido das gigantes de tecnologia — uma mudança clara desde que o ambiente regulatório chinês se tornou mais imprevisível. A guerra da inteligência artificial também ganhou novos capítulos. A OpenAI lançou o modelo GPT-5.2, com capacidades aprimoradas, enquanto a Disney anunciou um investimento de US$ 1 bilhão na empresa, além do licenciamento de mais de 200 personagens para geração de vídeos com IA — um passo que pode redefinir o entretenimento global. Em contrapartida, a Oracle assustou investidores com gastos acelerados em infraestrutura de IA, reacendendo preocupações sobre uma possível bolha gerada pela corrida por poder computacional. O México, por sua vez, aprovou o aumento de tarifas sobre importações chinesas e de outros países asiáticos, reforçando uma tendência global de proteção industrial em nome da competitividade doméstica. Entre isenções, fusões, megainvestimentos e a disputa mundial por tecnologia, a sexta-feira fecha com um claro sinal: o ambiente econômico pode até andar devagar, mas as mudanças estruturais estão a todo vapor — e cada uma delas tem o potencial de moldar o mercado nos próximos anos.

Quarta-feira, 10 de dezembro — SpaceX mira o maior IPO da história, stablecoins disparam no Brasil e Gol prepara saída para o mercado americano

A quarta-feira chega com um mercado que tenta equilibrar expectativas enquanto lida com notícias de peso — algumas domésticas, outras globais — e com o humor ainda fragilizado após sucessivas sessões sem direção clara. O Ibovespa encerrou o pregão com leve queda de 0,13%, acumulando agora retração de 0,69% no mês. Em um dia de liquidez moderada, Pão de Açúcar liderou as altas com +3,91%, enquanto Magazine Luiza caiu 4,93%, refletindo a sensibilidade do varejo à combinação de juros altos, consumo hesitante e aumento da competição digital. No rastreador de movimentos atípicos, as ações de Lojas Renner, Hapvida e Suzano chamaram atenção com volumes bem acima do usual, sinalizando reposicionamento dos investidores diante de um noticiário mais carregado. Para Suzano, o dia terminou praticamente estável — reflexo da resiliência do setor, mesmo em meio à volatilidade global. No cenário político, o dia começou com mais alinhamentos rumo a 2026. Tarcísio de Freitas oficializou o apoio à pré-candidatura de Flávio Bolsonaro, reforçando a consolidação do núcleo político que deve protagonizar a disputa presidencial. Paralelamente, o Cadastro Nacional de Imóveis deve ultrapassar a marca de 100 milhões de registros com a implementação da Reforma Tributária — um movimento que promete transformar o acesso a dados fundiários no país e aumentar a transparência sobre propriedades e ocupações. No Supremo Tribunal Federal, em meio às repercussões da crise envolvendo o ministro Dias Toffoli, o ministro Edson Fachin passou a defender a aprovação de um código de conduta para os magistrados da Corte — um debate que, embora recorrente, ganha força diante das pressões por maior institucionalidade. Enquanto isso, setores estratégicos da economia seguem atravessando ajustes. A indústria registrou queda de 2,7% no faturamento em outubro, marcando a terceira retração consecutiva e refletindo a desaceleração da demanda, os custos elevados e o ambiente de incerteza que atravessa a cadeia produtiva. No mesmo dia, a Shell sinalizou interesse em encontrar um parceiro para um projeto offshore no país, reforçando o apetite internacional pela matriz energética brasileira, mesmo com disputas regulatórias e políticas em curso. Outro dado que chama atenção é o das contas bancárias inativas: ainda há R$ 9,9 bilhões “esquecidos” por 48,7 milhões de brasileiros, segundo o Banco Central. Em tempos de orçamento apertado, é surpreendente ver o volume de recursos adormecidos. A Gol também movimentou o mercado ao apresentar seu prospecto para listagem nos Estados Unidos. Para muitos investidores brasileiros, a saída já era esperada — e talvez até bem-vinda — após anos de dificuldades financeiras e reestruturações. Essa migração reforça a tendência de empresas nacionais buscarem liquidez e previsibilidade fora do Brasil. Já o mercado de cripto ganhou protagonismo com o efeito pré-IOF: brasileiros movimentaram mais de R$ 10 bilhões em stablecoins antes da provável incidência do imposto. A corrida é uma resposta direta à perspectiva de que o governo amplie a taxação sobre ativos digitais em 2026. No agronegócio, o desfecho do acordo bilionário entre Minerva e Marfrig, firmado em 2023, ficará para 2026 — uma demora que prolonga a incerteza no setor de proteínas. O USDA também atualizou suas estimativas para as principais commodities, elevando as projeções de soja e trigo, mas reduzindo as de milho e algodão. Nas usinas do Nordeste, o cenário é preocupante: com a queda do preço do açúcar e o impacto das tarifas, algumas já reportam risco de prejuízo. No cenário global, a notícia mais explosiva vem de Elon Musk: a SpaceX planeja abrir capital com um IPO estimado em mais de US$ 30 bilhões, mirando um valuation de US$ 1,5 trilhão. Se confirmada, a operação será a maior listagem da história — e representará um marco para o setor de exploração espacial, satélites e conectividade global. Paralelamente, o Google entrou na mira da União Europeia, que abriu investigação antitruste sobre o uso de IA no YouTube — mais um capítulo na crescente tensão regulatória em torno das Big Techs. Entre volatilidade nos mercados, reorganizações empresariais e anúncios que podem redefinir setores inteiros, esta quarta-feira traz um retrato claro do momento: um país em transição e um mundo cada vez mais pautado por tecnologia, regulação e disputas estratégicas de longo prazo.

MCall | 9 de dezembro — Tarcísio fecha com Flávio Bolsonaro e e-commerces chineses dobram operações no Brasil

A terça-feira começa com o mercado tentando reencontrar estabilidade em meio ao turbilhão político e ao avanço acelerado do comércio digital estrangeiro sobre o consumidor brasileiro. Mesmo com o cenário ainda volátil, o Ibovespa fechou o último pregão em alta de 0,52%, reduzindo parcialmente as perdas acumuladas no mês, que agora recua 0,56%. O grande destaque do dia foi o salto de 10,20% das ações do IRB, puxado por um volume negociado quase cinco vezes maior do que a média — sinal de que investidores aproveitaram a volatilidade para reposicionar apostas. No campo das incorporadoras, Cyrela e Direcional também chamaram atenção com volumes acima do habitual, embaladas pelo otimismo com o setor imobiliário e pela perspectiva de continuidade das obras contratadas em 2025. Enquanto o mercado se ajusta, o noticiário político segue ocupado e intensifica a temperatura às vésperas de um ano eleitoral. A principal manchete vem de Tarcísio de Freitas, que reafirmou publicamente sua lealdade a Jair Bolsonaro e anunciou apoio à candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência. O movimento tenta nivelar expectativas dentro do grupo político, mas também escancara o clima de tensão: líderes do Centrão, por exemplo, esvaziaram a reunião do senador, que afirmou que “tem um preço” para desistir da disputa — frase que ressoou mal tanto no mercado quanto em Brasília. Paralelamente, avança no Congresso o projeto que endurece regras contra devedores contumazes — tema arrastado há oito anos e que, segundo o ministro Fernando Haddad, deve finalmente ir à votação. A preocupação é evitar que empresas usem brechas legais para protelar dívidas, gerando concorrência desleal e rombos fiscais relevantes. Outra notícia que mexe com o ambiente corporativo é o plano dos Correios de abrir um novo PDV que pode resultar na demissão de 15 mil funcionários. A estatal, que passa por uma das maiores reestruturações da sua história, tenta equilibrar contas em meio a queda na demanda tradicional, aumento de custos e pressões competitivas no segmento logístico. Para completar, a Aneel projeta uma alta de 7% na conta de luz em 2025 — outro elemento que pressiona famílias e empresas. No lado positivo (ou pelo menos dinâmico), os e-commerces chineses continuam sua escalada impressionante no país. Entre abril e setembro, o número de transações digitais cresceu 106%, muito acima da média de 24% registrada em outros mercados emergentes. O Brasil, claramente, virou o campo de batalha preferido das gigantes asiáticas, que disputam preço, logística e presença cultural para conquistar o consumidor local. No agro, mais mudanças importantes. Vibra e Copersucar encerraram a parceria na Evolua Etanol, enquanto a MBRF apresentou a nova liderança da Sadia no Oriente Médio, agora sob comando de Marquinhos Molina, de apenas 30 anos. Nos EUA, Donald Trump anunciou um pacote de US$ 12 bilhões para produtores prejudicados por tarifas internacionais — uma tentativa de conter o impacto do protecionismo crescente. Já a China deve aumentar ainda mais as compras de soja brasileira em 2025, devendo atingir um volume recorde. No cenário internacional, o humor não é dos melhores. A confiança do consumidor americano atingiu o nível mais baixo desde o início da série histórica em 1978 — uma queda de 32,5% em relação ao ano anterior. Esse dado é especialmente relevante, dado que consumo é o pilar central da economia dos EUA. A incerteza política, somada a juros ainda elevados, pressiona a percepção das famílias. Na guerra do entretenimento, a novela da compra da Warner Bros ganhou um novo capítulo. Depois que a Netflix anunciou a aquisição na última sexta-feira — prometendo manter tudo como está “por enquanto” —, a Paramount entrou com uma oferta hostil para levar não só o estúdio, mas também filmes e canais, algo que a Netflix havia descartado. O setor vive uma disputa bilionária que pode redesenhar completamente o mercado de streaming. E para fechar, o Google anunciou que lançará em 2026 seus novos óculos com inteligência artificial, entrando de vez na disputa com Apple e Meta pela próxima grande plataforma de hardware inteligente. Caso se confirme o potencial do dispositivo, podemos estar diante da próxima fronteira de consumo tech. Com política aquecida, empresas se reorganizando e tecnologia avançando em ritmo acelerado, esta terça se desenha como mais um capítulo de um dezembro que promete grandes movimentações — no Brasil, no mercado e no mundo.

MCall | 8 de dezembro — Globo vence disputa pela Libertadores e governo arrecada R$ 3,3 bilhões com bets

A semana começa acompanhada da ressaca de uma sexta-feira que colocou o mercado financeiro inteiro à prova. Depois de um pregão de forte aversão ao risco, o humor dos investidores segue cauteloso nesta segunda-feira, enquanto se digerem os últimos acontecimentos políticos, econômicos e corporativos que movimentaram o país e o mundo. Na sexta, o Ibovespa encerrou o dia em uma queda expressiva de 4,31%, em meio à surpresa eleitoral que sacudiu o ambiente político e desencadeou um movimento abrupto de fuga de risco. O resultado mensal, apesar da intensidade do último pregão, recua 1,07% até aqui. Em um dia dominado por perdas generalizadas, algumas exceções chamaram atenção: as ações da Weg registraram alta de 2,64%, enquanto Yduqs despencou 10,84%, refletindo a sensibilidade do setor educacional às mudanças macroeconômicas e regulatórias. Outro ponto relevante foi o comportamento atípico do volume negociado em papéis específicos. AZZA3 registrou um volume dez vezes maior do que a média, enquanto Allos e Multiplan também mostraram negociações intensas, com volumes muito acima do habitual. Esses movimentos sugerem reposicionamentos relevantes, possivelmente impulsionados pelo cenário eleitoral e pela reprecificação de risco nos setores de varejo, consumo e real estate. A leitura que fica — e que abre esta segunda-feira — é a de que momentos de forte volatilidade são menos sobre adivinhar o futuro e mais sobre estar preparado para ele. Investidores que operam sem planejamento sentem o impacto com mais intensidade, enquanto carteiras estruturadas demonstram resiliência. Na sexta, ativos como LVOL11 cumpriram seu papel ao acompanhar o Ibovespa com menor volatilidade, enquanto WRLD11 e USDB11 protegeram o portfólio ao se beneficiarem da disparada do dólar. Já quem apostou pesado em títulos ultralongos viu o patrimônio balançar fortemente, lembrando, mais uma vez, que modismos financeiros raramente compensam. Enquanto o mercado busca estabilidade, o noticiário nacional também se movimenta. O governo confirmou uma arrecadação de R$ 3,3 bilhões com as casas de apostas apenas até setembro, em um universo que já contabiliza 25 milhões de apostadores ativos no país — o equivalente a 12% da população. No campo da mídia esportiva, a Globo assegurou os direitos da Libertadores na TV aberta até 2030, superando a proposta da Cazé TV, enquanto Disney e Paramount renovaram na TV fechada. No cenário político, Bolsonaro confirmou Flávio Bolsonaro como candidato à Presidência em 2026, sinalizando uma reorganização importante no tabuleiro da próxima eleição. Na Justiça, o jogador Bruno Henrique tornou-se réu por estelionato em ação movida no Distrito Federal. E, do lado da educação financeira, uma pesquisa relevante mostrou que nove em cada dez brasileiros gostariam de ter aprendido noções de finanças na escola, evidenciando o crescente interesse da população por conhecimento sobre investimentos, planejamento e comportamento financeiro. No setor corporativo, a CPPIB, fundo de pensão canadense, se desfez integralmente de sua posição na Azzas 2154 e reduziu pela metade sua participação na Allos, movimentando quase R$ 1 bilhão nas duas operações. Já a japonesa NTT Data anunciou a aquisição da empresa brasileira SPRO, especializada em ERP para o agronegócio, reforçando o interesse asiático no mercado brasileiro de tecnologia agrícola. O agro, por sua vez, segue em um momento conturbado. Os credores aprovaram a falência do Grupo Pupin, conhecido pelo seu “Rei do Algodão”, marcando mais um capítulo de crises corporativas no setor. Além disso, a FAO informou queda nos preços globais de alimentos pelo terceiro mês consecutivo, enquanto as exportações de carne de frango do Brasil recuaram 6,5% em novembro — um movimento que tende a repercutir na balança comercial do último trimestre. No cenário internacional, as manchetes também são motivo de atenção. A Netflix aceitou pagar uma multa recorde de US$ 5,8 bilhões caso a aquisição da Warner Bros. não avance — uma cláusula considerada surpreendente pelo mercado, especialmente em um contexto de escrutínio regulatório global. Na China, a chamada “Nvidia chinesa”, a Moore Threads, estreou na bolsa com alta expressiva, quadruplicando seu valor logo no primeiro dia de negociação. Já a União Europeia impôs uma multa de US$ 140 milhões ao X, de Elon Musk, por violações da Lei de Serviços Digitais. Com tantas movimentações, esta segunda-feira se anuncia como um dia de ajustes, reflexão e reposicionamento. O mercado inicia a semana tentando reencontrar o equilíbrio após uma sexta intensa e um noticiário que não dá trégua. Para o investidor que começa o dia olhando para os gráficos e para as manchetes, a mensagem é clara: mais do que tentar antecipar o inesperado, é essencial ter uma estratégia que sobreviva a ele.

Sexta-feira, 05 de dezembro — Um dia de viradas no mercado, IPOs silenciosos e PIB fraco

A sexta-feira chega com um daqueles dias em que o noticiário parece sair direto do roteiro de um documentário sobre economia, política e negócios globais. Enquanto o Brasil absorve dados mais fracos de atividade e um leilão abaixo do esperado, o mercado acionário tem um pregão animado — e lá fora, uma possível jogada da Netflix pode alterar profundamente a dinâmica do entretenimento mundial. É a perfeita combinação de volatilidade, surpresa e ajuste de rota. Mercado financeiro: um pregão forte, volumes distorcidos e movimentos estratégicos O Ibovespa fechou o dia em alta expressiva de +1,67%, acumulando +3,38% só neste início de dezembro.A campeã do pregão foi a Totvs (TOTS3), que subiu +7,27%, impulsionada por expectativas positivas no setor de tecnologia e pelo clima de realocação dos investidores. Do outro lado, a C&A (CEAB3) teve uma queda de -9,05%, em um dia de volume completamente fora do padrão: 20,33 vezes acima da média, o que, por si só, já indica movimentos fortes de saída — e possivelmente relacionados à venda de parte relevante da sua participação pelos antigos controladores. Outros volumes atípicos do dia: ENEV3: 3,82x acima da média MGLU3: 3,12x acima da média Os fluxos mostram que, antes mesmo de 2025 terminar, o mercado está redesenhando posições para um 2026 que promete ser turbulento e cheio de ajustes. Negócios: vendas estratégicas e mudanças societárias O pregão também trouxe movimentações relevantes: A família Brenninkmeijer, histórica controladora da C&A no Brasil, acelerou sua saída: vendeu mais 21% do capital ontem, após ter vendido 13% um ano antes. A operação explica a pressão sobre o papel. A GP Investimentos reduziu metade de sua posição no Grupo SBF, dono da Centauro e Nike Brasil. Movimentos assim mostram uma tendência clara: grandes grupos estão realizando capital, fazendo caixa ou reorientando sua atuação num cenário de juros altos, incerteza tributária e consumo ainda heterogêneo. Economia brasileira: PIB fraco, arrecadação menor e ajustes na energia PIB cresce apenas 0,1% O crescimento abaixo das expectativas (0,1% contra estimativa de 0,2%) reforça as apostas de que o Banco Central pode acelerar o corte de juros.Depois de anos de taxa proibitiva, os efeitos sobre a atividade finalmente começam a aparecer de forma clara. Leilão do pré-sal decepciona O governo esperava arrecadar R$ 10 bilhões, mas o leilão rendeu R$ 8,8 bilhões.A frustração alimenta a sensação de que 2026 pode ser um ano difícil para fechar contas públicas — especialmente em um ambiente em que empresas antecipam pagamento de dividendos para fugir de novas tributações. Crime organizado e combustíveis As operações recentes contra fraudes no setor de combustíveis abriram espaço para aumento de participação de empresas como Vibra e Ultrapar.Isso reforça o diagnóstico de que o setor é um dos mais infiltrados pelo crime organizado — e explica por que é um dos maiores defensores da lei contra o “devedor contumaz”. Regulação e mercados O Banco Central desistiu de normatizar o Pix Parcelado, deixando cada banco determinar regras e taxas. A Novonor continuará com 4% da Braskem, após reorganizações internas. Agro: números fortes, tecnologia e apetites internacionais No campo, o PIB do agronegócio veio forte, impulsionado pela safra recorde e pela pecuária — mostrando que, enquanto a economia urbana desacelera, o campo segue acelerando. O governo lançou um app para atender exigências da União Europeia nas exportações, reforçando a digitalização da rastreabilidade. E um apetite estrangeiro chama atenção: o fundo de pensão canadense PSP aumentou sua aposta no Brasil e investiu na Citrosuco, a maior exportadora de suco de laranja do planeta. Mundo: Netflix dá o maior passo em décadas, LA-2028 supera Paris e Microsoft reajusta preços Nada movimentou mais o noticiário internacional do que a notícia de que a Netflix fez a maior oferta da história para adquirir a Warner Bros. Se a operação avançar, o impacto é gigantesco: Netflix e HBO Max no mesmo aplicativo deixariam de ser ficção o mercado de streaming se consolidaria em nível nunca visto Hollywood enfrentaria sua maior reorganização desde a era dos estúdios concorrentes como Disney, Amazon e Apple teriam de reposicionar seus modelos de negócios Em paralelo: A Olimpíada de Los Angeles já ultrapassou US$ 2 bilhões em patrocínios, ultrapassando Paris mesmo faltando mais de dois anos para o evento. A Microsoft anunciou aumento de preços no pacote Microsoft 365 para empresas e governos — um movimento que tende a influenciar orçamentos corporativos globalmente. Para fechar a semana A sexta-feira fecha com a sensação de que o mundo está se reposicionando:mercados se ajustam, empresas reorganizam capital, governos recalculam receitas, e gigantes da mídia começam um movimento que pode redefinir toda a indústria do entretenimento.

Quinta-feira, 04 de dezembro — Um dia de viradas globais, reorganização no Brasil e sinais econômicos mistos

A quinta-feira chega com um cenário econômico carregado de contrastes: enquanto alguns indicadores brasileiros atingem marcos históricos positivos, outras notícias acendem alertas relevantes — tanto no mercado interno quanto no cenário internacional. No exterior, decisões geopolíticas voltam a movimentar fluxos migratórios e tensões diplomáticas. No mercado financeiro, vemos mais um dia de volatilidade, desta vez puxado principalmente pelas siderúrgicas. Vamos aos destaques que moldam o dia. Mercado financeiro: siderúrgicas puxam o Ibovespa para cima O Ibovespa encerrou o pregão em alta de +0,41%, acumulando +1,69% apenas nos primeiros dias de dezembro.A disparada de Usiminas (USIM5), com +7,59%, liderou as altas, acompanhada por CSN (CSNA3) e Vale (VALE3), que também mostraram volume atípico e contribuíram diretamente para o movimento positivo do índice. A Direcional (DIRR3), com queda de -2,80%, puxou o lado negativo do dia. Destaques de volume fora do padrão: CSNA3: volume 2,27x acima da média VALE3: volume 1,88x acima da média TIMS3: volume 1,79x acima da média Esses movimentos costumam indicar reposicionamento institucional, rebalanceamentos ou notícias setoriais ainda em digestão pelo mercado. Brasil: queda da desigualdade, operação no INSS e anúncios bilionários Desigualdade de renda atinge o menor nível da história Segundo o IBGE, a desigualdade voltou a recuar no país, alcançando o menor patamar já registrado. É um dado importante para compreender a dinâmica do consumo, do mercado de trabalho e do poder real de compra das famílias — especialmente em um momento de desaceleração global. INSS suspende consignado do Agibank A autarquia interrompeu novos registros de crédito consignado pelo banco após uma auditoria identificar um número significativo de contratos feitos sem o consentimento dos beneficiários — incluindo contratos em nome de pessoas já falecidas.O caso reacende discussões sobre governança, compliance e fragilidades no sistema de averbação. TikTok anuncia investimento de R$ 200 bilhões A big tech chinesa declarou que vai construir um data center robusto no Brasil, com investimento estimado em R$ 200 bilhões.Resta saber se será um anúncio “de palco” — como o famoso caso dos R$ 750 milhões da Shein — ou um movimento estrutural de fato. Outros destaques domésticos CVM fecha acordo com conselheiros do IRB e encerra processo relacionado às fraudes. CEO da B3 desiste de ocupar assento no Conselho do Santander, evitando potenciais conflitos. Empresas estudam pagar dividendos em ações, medida que tende a rearranjar expectativas de rentabilidade futura. Agro: crédito mais escasso, mas novas portas se abrindo O setor agora enfrenta um dado preocupante: o crédito rural para pequenos produtores no Rio Grande do Sul caiu 30% em 2025. O endividamento crescente e o encarecimento do capital pressionam margens e podem comprometer a próxima safra. Em contrapartida, surge uma oportunidade: com o avanço da peste suína na Espanha, o Brasil pode ampliar sua participação nas exportações de carne suína para a Europa. Além disso, fontes indicam que a J&F está preparando a venda de uma fatia de sua mineradora, com o Citi já contratado para assessorar a operação. Mundo: Trump fecha portas para 19 países e preços de importados nos EUA se estabilizam No cenário internacional, a decisão mais impactante do dia vem dos Estados Unidos:Donald Trump suspendeu todos os pedidos de imigração de cidadãos de 19 países. Da América Latina, apenas Cuba, Haiti e Venezuela foram incluídos na lista; o restante é composto majoritariamente por países da África e da Ásia.A medida deve gerar tensão diplomática e efeitos imediatos nas comunidades migratórias. Na economia, os preços de importados nos EUA ficaram estáveis. O aumento de preços nos bens de consumo foi compensado por quedas nos preços de energia — um dado importante para projeções da inflação americana. Negócios do dia: 3tentos compra Grão Pará Bioenergia No mercado corporativo brasileiro, destaque para o movimento da 3tentos, que adquiriu a Grão Pará Bioenergia por R$ 1,15 bilhão, entrando de vez na produção de etanol de milho — um dos segmentos com maior perspectiva de crescimento nos próximos anos. O dia traz um mosaico de notícias aparentemente desconectadas, mas que, juntas, revelam a fotografia completa de um país e de um mundo em transição:mercados ajustando rota, governos redefinindo fronteiras, empresas reagindo ao ambiente regulatório, e a economia real enviando sinais mistos — alguns animadores, outros preocupantes.

Terça-feira, 02 de dezembro | Itaú assume controle da Avenue, e recuperações judiciais no agro disparam

O mercado abriu a terça-feira com um clima de cautela, refletido no recuo de 0,34% do Ibovespa, que encerrou o pregão pressionado por movimentos pontuais em setores relevantes. A Eneva liderou as altas do dia com avanço de 3,22%, enquanto a MBRF amargou queda de 7,66%. O rastreamento de volume atípico mostrou forte movimentação nas ações de Rdor, Hypera e Caixa Seguridade — todas negociadas bem acima da média, mas com desempenho negativo, sinalizando uma rotação defensiva no mercado. Entre os assuntos centrais do dia, um tema recorrente voltou ao debate público: o impacto do dólar no cotidiano dos brasileiros. A clássica frase “eu não como dólar” ganhou novos contornos após um estudo da FGV revelar, com dados consistentes, a dimensão da exposição cambial das famílias em todas as faixas de renda. Com 10% do PIB brasileiro dependente diretamente de importações, a variação do câmbio se infiltra silenciosamente em nossa cesta de consumo. A pesquisa demonstra, inclusive, qual proporção ideal de dolarização cada grupo deveria ter em seus investimentos — uma evidência concreta de que diversificação internacional não é luxo, mas uma ferramenta de preservação real do poder de compra. A reflexão levantada por Bruno Paolinelli, autor da newsletter, sintetiza o argumento: se o seu consumo já está exposto ao dólar, por que seus investimentos ainda não estão? No noticiário corporativo, o movimento mais relevante veio do setor financeiro. O Itaú assumiu o controle da Avenue após adquirir uma fatia adicional de 17% da corretora, atingindo 50,1% de participação e consolidando sua estratégia de expansão internacional em investimentos para pessoa física. O mercado também observou outras transações expressivas: a Sonae vendeu sua participação de 26% no shopping Parque Dom Pedro por R$ 625 milhões, enquanto a UnitedHealth encerrou sua presença na América Latina com a venda da Banmédica ao grupo Pátria por US$ 1 bilhão. No cenário doméstico, a crise empresarial segue deixando marcas profundas. A AMMO, dona da mmartan, entrou com pedido para aprovação de um plano de recuperação judicial, acumulando R$ 393 milhões em passivos. A empresa colocou a própria marca como garantia em uma tentativa de reorganização. No agro, a situação é ainda mais crítica: o número de recuperações judiciais no setor atingiu um novo recorde, refletindo margens comprimidas, juros altos e escassez de crédito — uma combinação que deve resultar em um volume de fusões e aquisições apenas estável em 2025, ao contrário do crescimento esperado em anos anteriores. O relatório do Ministério da Fazenda foi outro ponto de atenção. Ele mostrou que o grupo 0,01% mais rico do país paga apenas 4,6% de Imposto de Renda efetivo, devido ao uso intensivo de instrumentos isentos como dividendos e títulos incentivados. Paralelamente, o 1% mais rico concentra 37% de toda a riqueza nacional, evidenciando desigualdades estruturais que reacendem o debate sobre reforma tributária e justiça fiscal. O Banco Central, por sua vez, lançou uma nova ferramenta para impedir abertura não autorizada de contas, reforçando a agenda de segurança no sistema financeiro. Na política, o ambiente continuou agitado: o Contran aprovou o fim da obrigatoriedade de aulas em autoescola para obtenção da CNH, medida que deve mexer com o mercado de formação de condutores. No setor empresarial, uma movimentação inusitada chamou atenção — a ASA fez um ataque hostil ao banco ABC Brasil, levando embora 50 executivos de uma só vez. Também continuam os desdobramentos da crise do Banco Master, que vem afetando negócios ligados ao empresário Nelson Tanure. O noticiário internacional revelou dificuldades no setor automotivo chinês: a BYD registrou queda nas vendas pelo terceiro mês consecutivo, resultado de uma concorrência feroz entre dezenas de montadoras em um mercado que se transformou em uma verdadeira guerra de preços. A Tesla enfrenta o mesmo ambiente adverso na China. No comércio global, os custos de transporte voltaram a pressionar as cadeias logísticas, com o frete marítimo atingindo sua máxima em quase dois anos. A terça-feira chega ao fim com um mosaico complexo de informações: bancos se movem estrategicamente, a crise empresarial avança em setores importantes, o agro vive uma onda inédita de pedidos de proteção judicial e o debate sobre dolarização e poder de compra ganha força — tudo isso enquanto o cenário internacional mostra um ambiente competitivo e volátil. O cenário financeiro brasileiro entra no mês de dezembro ainda em estado de atenção, mas também repleto de movimentos que podem redesenhar partes relevantes do mercado.

Segunda-feira, 1º de dezembro | Correios: Governo vira fiador de R$ 20 bilhões para salvar estatal, e China suspende unidades de soja brasileiras

A semana começa com um cenário econômico diversificado, marcado por sinais de alívio nos mercados, tensões no agronegócio e decisões políticas de grande impacto fiscal. Na última sexta-feira, o Ibovespa encerrou o pregão com alta de 0,45%, consolidando um avanço robusto de 6,73% no mês de novembro. Entre os destaques do dia, a Natura liderou as altas com ganho de 4,54%, enquanto o Assaí registrou a maior queda, recuando 6,06%. O volume de negociações também chamou atenção em grandes nomes da Bolsa, com Vale, Hypera e CVC entre as ações que movimentaram significativamente acima da média. O grande tema do noticiário nacional foi a confirmação de que o governo federal aceitou se tornar fiador de um empréstimo de R$ 20 bilhões para os Correios, em uma tentativa de evitar o colapso financeiro da estatal. A medida, antecipada pela Folha, reacende o debate sobre a sustentabilidade das empresas públicas e o custo que recai sobre o contribuinte quando a má gestão se transforma em passivo. Para muitos analistas, a decisão foi vista como uma escolha entre um socorro bilionário ou a falência de uma das instituições mais tradicionais do país — e, diante disso, o governo optou por bancar o risco. No universo esportivo e de negócios, o Flamengo projeta um faturamento histórico de R$ 2 bilhões em 2024, um salto de 50% em relação ao ano anterior. A cifra consolida o clube como potência econômica no futebol brasileiro, alimentando comparações com grandes equipes europeias e reforçando a tendência de profissionalização e capitalização do setor. A movimentação nos aeroportos brasileiros também demonstra um país em trânsito acelerado: o número de passageiros bateu recorde no ano, refletindo a combinação de demanda reprimida, expansão de rotas e melhora gradual do poder de compra. Em contrapartida, a fotografia macroeconômica apresenta nuances. A taxa de desemprego caiu para 5,4%, o menor patamar da série histórica do IBGE, indicando uma resiliência surpreendente do mercado de trabalho. Por outro lado, a dívida pública bruta avançou para 78,6% do PIB em outubro, reforçando preocupações com a trajetória fiscal. A cena política seguiu aquecida, com o presidente Lula sinalizando um possível rompimento com o senador Davi Alcolumbre caso o advogado-geral da União, Jorge Messias, seja derrotado em articulações no Congresso. No agronegócio, o destaque ficou por conta da confirmação de que a China suspendeu cinco unidades brasileiras exportadoras de soja, movimento que acende um alerta importante para um dos pilares do comércio exterior do país. O setor também acompanhou o lançamento de uma nova linha de crédito do Rabobank, que permitirá até 20 anos para financiar projetos de recomposição de reserva legal. No mercado interno, a maior cooperativa de café conilon do Brasil anunciou a incorporação da Coopbac, especializada em pimenta-do-reino, ampliando sua diversificação produtiva. No cenário internacional, a Suíça rejeitou a criação de um imposto sobre grandes heranças por temer a fuga de milionários — uma decisão que dialoga com o que muitos economistas chamam de “dilema da Teoria dos Jogos” no contexto fiscal global. Enquanto diversos países caminham para tributar grandes fortunas, outros preferem preservar sua atratividade para capitais globais, evitando medidas que poderiam espantar contribuintes de alta renda. Nos Estados Unidos, a Black Friday registrou crescimento de 4,1% nas vendas, mesmo em um ambiente de maior cautela das famílias. E no universo do esporte e do marketing, o Nubank estaria negociando os naming rights do futuro estádio do Inter Miami, o time de Lionel Messi. O mês vira com uma combinação de expectativas otimistas em alguns setores e tensões persistentes em outros — compondo o mosaico econômico, político e social que acompanhará o país na entrada de dezembro.

Sexta-feira, 28 de novembro
Emprego formal despenca no Brasil e 58 FIDCs revelam exposição bilionária ao Master

A sexta-feira foi marcada por uma combinação de cautela e volatilidade nos mercados. O Ibovespa encerrou o dia em leve queda de 0,12%, ainda assim acumulando alta de 5,90% no mês. A CVC liderou as altas do pregão com avanço de 6,86%, enquanto Hapvida novamente apareceu entre as maiores quedas, recuando 5,30%. Três papéis chamaram atenção pelo volume atípico de negociação: Hypera, Fleury e Raízen, sinalizando movimentos específicos de fluxo em meio a um dia de menor apetite por risco. No noticiário corporativo e institucional, a GRU Airport arrematou 12 aeroportos regionais em um leilão promovido pelo Ministério de Portos e Aeroportos, ampliando sua presença no setor de infraestrutura aeroportuária. Já o Grupo Fit, controlador da refinaria de Manguinhos, foi alvo de uma operação que investiga suspeitas de fraude fiscal bilionária, movimentação que pode gerar novos desdobramentos regulatórios. O cenário econômico doméstico trouxe um dado preocupante: o Brasil gerou apenas 85.147 empregos formais em outubro, número muito inferior aos 213.002 registrados em setembro. O resultado acendeu alertas sobre uma possível desaceleração mais forte no mercado de trabalho e reforçou apostas de um corte de juros na reunião do Copom em janeiro — expectativa que já vinha sendo ventilada, mas ganha força com a deterioração no ritmo de contratações. Outro movimento relevante no varejo foi da Chilli Beans, que contratou assessoria para vender uma fatia de 30%. Com 26% do mercado de óculos de sol no país, a empresa tem intensificado sua atuação em óculos de grau, apoiada no diagnóstico de que estamos vivendo uma verdadeira “epidemia de miopia”, como afirma Caito Maia, impulsionada pela exposição cada vez maior às telas. A inflação também continuou no centro das conversas. O IGP-M registrou a primeira queda em 12 meses desde 2024, acumulando recuo de 0,11% no período. Apesar disso, a pergunta que sempre fica — se o aluguel vai cair com esse movimento — permanece com a mesma resposta resignada de sempre. Mas o capítulo mais sensível do dia veio do sistema financeiro. Um total de 58 FIDCs, somando patrimônio de R$ 3,9 bilhões, revelaram exposição ao Banco Master. O tema, que domina o noticiário desde a liquidação da instituição, continua ganhando novas camadas de risco e pressionando gestores a reavaliar posições, estruturas e liquidez. Em paralelo, a Caixa divulgou previsão de R$ 1 trilhão em crédito imobiliário para a próxima década, reforçando a perspectiva de expansão contínua do setor. No fronte corporativo, Itaú e Vale anunciaram distribuições bilionárias de dividendos, mantendo o ritmo de retorno significativo ao acionista. E, na Argentina, a Raízen avança nas negociações para vender ativos avaliados em mais de US$ 1 bilhão, segundo fontes próximas ao tema. No agronegócio, os sinais são mistos. A Cotribá, uma das cooperativas mais tradicionais do Rio Grande do Sul, entrou com pedido de proteção judicial para evitar bloqueios em meio a uma dívida de R$ 1 bilhão, revelando fragilidades em algumas estruturas regionais. A China cancelou uma carga de soja brasileira e suspendeu cinco unidades de processamento após suspeita de contaminação, adicionando tensão ao setor. Por outro lado, a produção de carne de frango pode alcançar um novo recorde em 2026, de acordo com projeções atualizadas. A semana termina com um mercado dividido entre sinais de fragilidade no curto prazo — especialmente no emprego e no sistema financeiro — e perspectivas positivas em setores específicos, mostrando que a economia segue em um equilíbrio delicado entre avanço e cautela.

Quinta-feira, 27 de novembro
Fitch rebaixa BRB após caso Master, CBF cria Fair Play Financeiro e Ultrapar compra fatia relevante da Rumo

O pregão desta quinta-feira foi marcado por forte movimento na Bolsa brasileira. O Ibovespa encerrou o dia em alta de 1,70%, acumulando um avanço de 6,03% no mês. Entre os destaques, a Rumo liderou as altas com 9,14%, impulsionada por uma notícia que movimentou o mercado: a compra, pela Ultrapar, de uma fatia próxima a 5% das ações da companhia, cuja principal acionista é a Cosan. Do lado oposto, Hapvida registrou a maior queda do dia, recuando 7,15%. No radar dos investidores, três papéis chamaram atenção pelo volume de negociação muito acima da média: Rumo (RAIL3), Hypera (HYPE3) e Eneva (ENEV3). O movimento reforçou o clima de volatilidade moderada que marcou a sessão, com investidores acompanhando tanto o cenário doméstico quanto fatores externos. O noticiário corporativo também trouxe novidades relevantes. A BHub, plataforma de gestão financeira para pequenas e médias empresas, anunciou a compra da Agrocontar, o maior escritório de contabilidade do setor agro, ampliando sua presença num segmento que segue em forte competição e consolidação. No cenário brasileiro, a CBF oficializou a criação do Fair Play Financeiro para os clubes de futebol, que entrará em vigor em 2026. O modelo prevê três janelas de monitoramento por ano e estabelece limites de déficit. Na Série A, o teto será de R$ 30 milhões ou 2,5% das receitas, prevalecendo o valor maior. Caso um clube apresente prejuízos operacionais, aportes de capital poderão ser realizados para regularização. A regra ainda introduz limites para despesas com elencos, buscando maior sustentabilidade financeira no esporte. Outro movimento que repercutiu no mercado foi o rebaixamento dos ratings do BRB pela Fitch. A agência citou “graves deficiências” após a liquidação do Banco Master, o que acendeu um sinal de alerta entre investidores, especialmente nos canais de distribuição, onde o comportamento de pânico ficou evidente. Muitos tentaram se antecipar aos riscos correndo para ativos cobertos pelo FGC — em alguns casos, aceitando deságios elevados para saírem rapidamente das posições. Além disso, o Tesouro Nacional informou um superávit de R$ 36,5 bilhões em outubro, reforçando um quadro fiscal mais favorável no curto prazo. A área habitacional também teve novidade relevante: o Conselho autorizou o uso do FGTS para aquisição de qualquer imóvel de até R$ 2,25 milhões, ampliando o alcance do fundo. Já o IPCA-15 de novembro avançou 0,2%, acima das expectativas, reacendendo debates sobre trajetória inflacionária. No setor energético, um grupo turco entrou na disputa pela termelétrica da EDF, competindo diretamente com os irmãos Batista. No agro, o Banco da Amazônia reportou queda de quase 30% no lucro, impactado pela atividade mais fraca do setor, enquanto a Deere revisou para baixo sua previsão de lucro e disse esperar que 2026 seja o ano mais fraco do ciclo — declaração que pressionou suas ações, que recuaram mais de 5%. Já a Lavoro segue movimentando seu tabuleiro estratégico, negociando a venda da divisão Crop Care e anunciando mudanças em sua liderança. No cenário internacional, os Estados Unidos decidiram estender por mais tempo as exclusões tarifárias de uma lista de produtos industriais chineses, incluindo itens usados em equipamentos de geração solar, aplicações médicas e setores industriais. As autorizações venceriam no dia 29, e a prorrogação reduz a pressão sobre cadeias produtivas que ainda lidam com volatilidade pós-pandemia. A quinta-feira, portanto, trouxe um prato cheio para investidores e profissionais do mercado: decisões regulatórias importantes, ajustes de classificação de risco, movimentos corporativos relevantes e dados econômicos que reforçam debates sobre os próximos passos da política monetária e da atividade global.