A semana começa com um mercado mais otimista no Brasil, embalado por uma sexta-feira positiva na Bolsa, mas ainda cercado por incertezas relevantes no cenário fiscal doméstico e por movimentos estratégicos que podem redesenhar setores inteiros no cenário global. O Ibovespa encerrou a última sessão da semana passada em alta de 0,99%, acumulando ganho de 1,07% no mês, em um movimento que reflete mais alívio técnico do que uma mudança estrutural de percepção.
Entre os destaques do pregão, Hapvida liderou os ganhos com valorização expressiva de 5,45%, enquanto Cosan figurou entre as maiores quedas, recuando 2,18%. O volume acima da média em papéis como Vibra, Cury e Vivara indica reposicionamento de carteiras típico de dezembro, quando gestores ajustam exposição e realizam lucros antes do encerramento do ano.
No pano de fundo, no entanto, o noticiário sugere que 2026 já começa a ser precificado com mais intensidade.
No Brasil, os holofotes se voltam novamente para os Correios. A estatal recorreu a um empréstimo com juros no limite do Tesouro Nacional para evitar um aperto de caixa mais severo, contando com a participação de grandes bancos — Caixa, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander — todos com aval do próprio Tesouro. O episódio reforça a percepção de fragilidade financeira das estatais e adiciona mais um ponto de pressão às contas públicas, justamente em um momento de debate intenso sobre arrecadação, gastos e sustentabilidade fiscal.
Ainda no ambiente doméstico, a Reforma Tributária começa a produzir efeitos práticos. A padronização e o aumento do ITCMD em 14 estados e no Distrito Federal reacendem discussões sobre planejamento patrimonial, sucessão e eficiência tributária, especialmente para famílias de maior renda. Paralelamente, a revelação de que cerca de 40 mil emendas parlamentares estão sob o radar do Supremo Tribunal Federal e da Polícia Federal elevou a tensão no Congresso, ampliando a instabilidade política no fim do ano legislativo.
Do lado corporativo, a Âmbar Energia, controlada pela J&F, anunciou a compra de uma usina térmica da francesa EDF no Rio de Janeiro por até R$ 2 bilhões, reforçando o movimento de consolidação no setor de energia. Já a BRK Ambiental deu mais um passo rumo ao mercado de capitais ao pedir registro para IPO na B3, sinalizando que 2026 pode começar com uma janela mais ativa para ofertas, caso o cenário macro permita.
No exterior, o grande destaque do dia é a SpaceX. A empresa de Elon Musk definiu um valuation de US$ 800 bilhões em transações recentes no mercado secundário, o dobro do valor praticado apenas cinco meses atrás. Caso o IPO se concretize nesses patamares, a listagem pode se tornar uma das maiores da história, reforçando o apetite global por empresas ligadas a tecnologia, defesa e espaço — mesmo em um ambiente de juros ainda elevados.
Ao mesmo tempo, surgem novos riscos no radar. A China sinalizou que pretende ampliar o controle sobre o mercado global de minério, movimento que pode impactar diretamente grandes exportadoras como a Vale. Em paralelo, mais de um bilhão de barris de petróleo seguem parados no mar, enquanto países sancionados tentam encontrar compradores, distorcendo fluxos globais de energia e preços.
O cenário político internacional também trouxe fatos relevantes. No Chile, a eleição de José Antonio Kast marca uma guinada à direita no país, com possíveis reflexos na política econômica e na relação com investidores. Já nos Estados Unidos, o governo Trump voltou aos holofotes ao retirar Alexandre de Moraes e sua esposa da lista de sancionados pela Lei Magnitsky e ao abrir oficialmente as inscrições para o chamado “Gold Card”, um visto de US$ 1 milhão voltado a indivíduos de alta renda.
O início desta semana, portanto, combina sinais claros de otimismo seletivo nos mercados com alertas importantes no campo fiscal, político e geopolítico. A Bolsa sobe, mas o noticiário lembra que o ambiente segue complexo. Para o investidor, o recado é conhecido: não se trata de buscar euforia, mas de navegar um cenário em que oportunidades e riscos convivem lado a lado — e onde estratégia segue sendo mais importante do que previsão.