MCall | 16 de dezembro de 2025 | Mercado sobe apesar do Chapter 11 da Azul e de sinais crescentes de estresse econômico

O mercado brasileiro voltou a subir nesta terça-feira, em um movimento que chama atenção não apenas pelo desempenho do Ibovespa, mas principalmente pelo contraste entre a alta dos índices e o aumento visível das tensões no ambiente corporativo e macroeconômico. O principal índice da Bolsa avançou 1,07%, acumulando alta de 2,14% no mês, impulsionado por ações de grande peso, como a Rede D’Or, que subiu 4,71%. Ainda assim, o dia foi marcado por notícias que reforçam a fragilidade de setores específicos da economia e os desafios que se desenham para 2026. O episódio mais emblemático foi o forte tombo das ações da Azul, que despencaram 21% após o mercado reagir aos desdobramentos do processo de Chapter 11. A reestruturação praticamente elimina o valor para os atuais acionistas, com a nova estrutura acionária ficando quase integralmente nas mãos dos detentores das dívidas mais seniores. O caso funciona como um lembrete duro, porém didático, sobre hierarquia de capital e risco real em empresas altamente alavancadas — especialmente em setores cíclicos como o aéreo. Mesmo com esse choque pontual, o mercado como um todo encontrou suporte em outros movimentos corporativos relevantes. Um deles foi a mudança no controle da Braskem. A gestora IG4 assumiu dívidas detidas por bancos, levando à saída da Novonor da posição de controladora da petroquímica. Trata-se de um movimento que encerra um longo ciclo de incertezas em torno da governança da companhia e pode abrir espaço para uma reprecificação futura do ativo, ainda que o processo de reestruturação esteja longe de concluído. Outro destaque foi a crescente presença chinesa em ativos estratégicos brasileiros. A CMOC fechou a compra de minas de ouro da canadense Equinox por US$ 1 bilhão, reforçando a estratégia da China de diversificação de reservas e de garantia de acesso a commodities em um cenário global cada vez mais fragmentado. O movimento ocorre em paralelo à intensificação das compras de ouro por bancos centrais e governos, num claro sinal de busca por proteção em meio a riscos geopolíticos e fiscais. No campo macroeconômico doméstico, os dados reforçam uma desaceleração gradual da atividade. O índice de atividade econômica do Banco Central recuou 0,25% em outubro frente a setembro, com quedas concentradas na indústria e nos serviços. Ao mesmo tempo, o governo estuda um novo programa de renegociação de dívidas para MEIs, micro e pequenas empresas, em um formato semelhante ao Desenrola. Embora a medida possa aliviar o caixa de empresas no curto prazo, ela também evidencia a dificuldade estrutural de sobrevivência de negócios em um ambiente de crédito caro e crescimento baixo. A pressão também se manifesta no setor de energia. Uma greve na Petrobras atingiu seis refinarias e 16 plataformas, adicionando ruído a um setor que já convive com desafios de governança, investimentos e interferência política. Em paralelo, a Anac publicou o edital do leilão do Galeão, com lance mínimo de R$ 932 milhões, em mais um esforço de reorganização do setor aeroportuário brasileiro. No agronegócio, os sinais de estresse ficaram ainda mais claros.